terça-feira, 20 de julho de 2010

A DENTADURA QUE ESCAPULIU

          Você já foi pego de surpresa, com alguém tentando te responsabilizar por atos praticados por outra pessoa ou até mesmo omissões de alguém?

          Ficou sem ação neste caso?
          Este tipo de coisa acontece com frequência na vida da gente e em alguns casos nos deixam um pouco perturbado e com certa ponta de indignação. Confesso que diante de uma vida tão atribulada e cheia de desafios, não é fácil se controlar diante de coisas deste tipo
          Quando a surpresa é positiva, tudo bem, mas o difícil é quando temos que pagar por ações ou omissões de outros que, na maioria das vezes, não tem o mesmo compromisso que a gente.
          Para nossa tranqüilidade o importante é termos a consciência tranquila em relação a tudo que foi realizado. Não obstante a consciência tranquila, chega uma hora em que é preciso cobrar certas providências, antes que a "Vaca vá para o brejo".
          O escritor Péricles Prade (confesso que desconhecido para mim) escreveu um texto intitulado "A dentadura", que consta de seu livro "Milagres do Cão Jeronimo", lançado em 1975 e que encontrei numa apostila de Comunicação e Expressão.
          Vocês vão entender o que quero dizer, ao lerem toda a narrativa.

          Enquanto o senhor Pirandelo dormia, a dentadura saiu tranquilamente do copo em que se encontrava, e caminhou até a cozinha onde comeu todo o bolo. Voltou pé ante pé, e viu o dono dormindo na santa paz do Senhor.
          Ela não resistia mais à passiva situação de permanecer, há tanto tempo, mergulhada numa água azul de estranhos odores.
          Resolveu que deveria ter vida própria.
          Fazia e acontecia somente à noite, pois durante o dia o trabalho na boca do senhor Pirandelo era demasiado. Para obtenção deste privilégio usou de uma série de recursos, já que a nossa "dentadurinha" era muito sabida.
          O mais brilhante recurso resumia-se no seguinte: comprimir as gengivas do velho de uma forma terrível, todos os dias, após o jantar.
          Era infalível. Após o jantar a dentadura era mergulhada na água azul.
          O território de suas andanças era somente o da casa. E uma coisa deve ser dita, com fidelidade: nunca foi sequer ao jardim. Hoje, entretanto, após comer o bolo noturno, teve uma idéia genial que coçava sua estrutura cor-de-rosa: Sair de casa!
          Olhou para os lados, certificando-se que o velho continuava a roncar.
          Saltou do copo, desceu as escadarias, rumando à praça.
          No caminho se escondeu duas ou três vezes, ao passar um guarda. Passeou alegre e descontraída até a madrugada, contente com esta nova oportunidade.
          Quando retornava, porém, com o sol quase nascendo, ao dobrar uma esquina viu um homem esmurrar uma bela menina de tranças marrons.
          Num rompante de indignação correu ao seu encontro e mordeu com violência o calcanhar do musculoso cidadão. Uma bela mordida no "Tendão de Aquiles".
          Coitada da dentadura! Mal teve tempo de se orgulhar do seu ato heróico, pois foi esmagada pelo peso de um sapato de forte solado de couro.
          Naquela manhã o senhor Pirandelo, ao procurar a dentadura na seção de Achados e Perdidos, ficou extremamente perturbado com o guarda dando-lhe a Voz de Prisão.
 
          Conselho de amigo.
          Se aparecer uma “dentadura” na sua vida, tome muito cuidado.
          Se ela começar a apertar-lhe a boca, troque-a imediatamente.
          Se não trocar, para ter sossego quando for dormir, não custa nada colocar um pires em cima do copo com água azul
          Eu não conheço o autor, não sei de nenhum Pirandelo e não uso dentadura, por isso não vejo motivos para dizer que qualquer semelhança é mera coincidência. Em todo caso, já mencionei.

2 comentários:

Anônimo disse...

Escuta aqui, ordinário. Olhe a sua reputação na cidade. Pense nisso.

Anônimo disse...

Paulinho, acho que tem uma prótese dentária "mordida" com você.....rsrsrsrs

ARQUIVO